Frei Marcos Sassatelli, op

O Ser Humano histórico-social (4)

Podcast Outro Papo de Igreja, do Serviço Teológico Pastoral

(A parte final do artigo anterior, da série de artigos sobre o Ser humano)

O modo de produção caracteriza-se pelos seguintes elementos: 

  • O estágio de desenvolvimento das forças produtivas (combinação da força de trabalho com os meios ou técnicas de produção). 
  • As relações sociais (relações existentes entre os agentes da produção social e os meios de produção). 
  • A maneira de apropriação do excedente da produção social.

A forma como se combinam estes três elementos determina um modo de produção específico. 

      Historicamente falando, podem ser considerados como fundamentais os modos de produção primitivo, escravista (clássico e moderno), feudal, capitalista e socialista (Cf. MENDONÇA, N. Domingues, O uso dos conceitos. Uma questão de interdisciplinariedade. Vozes, Petrópolis, 19852, p. 64-65.

Sendo as mudanças sociais lentas e não acontecendo com o mesmo ritmo em todos os lugares, numa sociedade concreta (formação social) podem existir diversos modos de produção (ou, ao menos, elementos de diversos modos de produção). Um, porém, é sempre dominante e condiciona dialeticamente os outros, que, em geral, são “restos” de modos de produção em via de superação histórica. 

Em outros textos, teremos a oportunidade de refletir longamente sobre a sociedade capitalista contemporânea (e também sobre as experiências de sociedade socialista do chamado “socialismo real”) desde a ótica dos Pobres (empobrecidos/as, marginalizados/as, oprimidos/as, explorados/as, excluídos/as e descartados/as), daqueles/as que “não-são”, daqueles/as que “não-contam”. 

Teremos a oportunidade, ainda, de destacar e evidenciar os sinais históricos de uma nova sociedade (uma sociedade alternativa: popular, socialista, ecológica, democrática, igualitária e participativa), que é a sociedade do “Bem Viver” e do “Bem Conviver” (como afirmam os nossos irmãos e irmãs Indígenas), ou – à luz da fé – o Reino de Deus acontecendo na história do Ser humano e do mundo.

Embora se encontre em gestação, essa sociedade está sendo construída pelos setores organizados das classes populares e seus “aliados”, e será certamente uma sociedade eticamente superior e mais perfeita. 

“Pergunto-me – diz o Papa Francisco – se somos capazes de reconhecer que estas realidades destrutivas correspondem a um sistema que se tornou global. Reconhecemos que este sistema impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza? Se é assim – insisto – digamo-lo sem medo: queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos… E nem sequer o suporta a Terra, a Irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco”. 

O Papa diz ainda que este sistema insuportável exclui, degrada e mata!”. Francisco continua afirmando: “Queremos uma mudança nas nossas vidas, nos nossos bairros, no vilarejo, na nossa realidade mais próxima; mas uma mudança que atinja também o mundo inteiro, porque hoje a interdependência global requer respostas globais para os problemas locais. A globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença” (2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Santa Cruz de la Sierra – Bolívia, 09/07/15).

Por fim, “ser-no-mundo” socialmente (estruturalmente) significa – para o Ser humano histórico – que suas relações (em maior ou menor grau, sempre, “conscientes”, senão não seriam relações humanas) com-o-mundo material e vivente e os outros (semelhantes), e com-o-Outro absoluto (Deus) são, antes de tudo, socioambientais, estruturais, objetivas. Elas acontecem (se processam) numa sociedade historicamente determinada (formação social) e na interdependência (interação) dialética do nível econômico (infraestrutura) com o nível jurídico-político e ideológico (superestrutura). São relações que não dependem da consciência e da vontade dos indivíduos (embora as relações sociais influenciem e condicionem dialeticamente as relações individuais e estas as sociais). 

O Ser humano histórico é, pois, um ser totalmente social (sociedade), mas a socialidade não é a totalidade do Ser humano histórico

(Ainda na série de artigos sobre o Ser humano, no próximo trataremos do Ser humano histórico-individual). 

Compartilhando:

Para uma visão mais aprofundada e abrangente dos temas tratados, leia:

Editora Lutas Anticapital: Marília – SP, 2023 (p. 384)
www.lutasanticapital.com.br/
editora@lutasanticapital.com.br

Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção – SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
 Goiânia, 13 de fevereiro de 2024 

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